Por Luiz Martins em 4/7/2006, in OI |
Perdemos a Copa, mas ganhamos em besteirol. E a novidade pegou. Tanto, que de nada valeu a retratação lida por Fátima Bernardes [Jornal Nacional, 26/06/2006], em decorrência das queixas do técnico Carlos Alberto Parreira. No domingo (2/7), o Fantástico voltou com as leituras labiais mesmo com o técnico Parreira, nas cenas, tampando a boca com as mãos, quando desabafava com Zagallo, durante o jogo contra a França. Ou seja: dentro da Globo saiu vitoriosa a corrente que foi contra a retratação veiculada no JN (algo raríssimo na mídia brasileira). Afinal, no reino das pegadinhas, a Globo saiu na frente nessa modalidade e nada será como antes, pois, a qualquer hora, em qualquer lugar, alguém poderá estar sendo flagrado em sua leitura labial. Morte à ética, longa vida aos negócios, haja vista o sucesso da pegadinha jornalística. Diz o Art. XIX da Declaração Universal dos Direitos Humanos que "todo ser humano tem o direito de informar e ser informado, em qualquer lugar, por quaisquer meios, independente de censura". O lado perverso desse direito jamais efetivado, diz, agora: "Todo ser humano estará, em qualquer lugar e independente da sua vontade, sujeito a intromissões invasivas por parte da mídia". É o Big Brother, alastrando-se para além da mansão montada para o espetáculo de exibicionismo absoluto e no valor de 1 milhão de reais. É a absolutização da profecia do canadense Marshall McLuhan de que o "meio é a mensagem" (ou a massagem), ou ainda de que os meios são extensões do homem – nesse caso, Parreira fala ao microfone da Globo, mesmo sem querer, ou sem o saber. Vale igualmente a constatação de outro canadense, Shut Jally, de que as pessoas, mesmo sem o saber, com freqüência encontram-se (na condição de estatística de audiência) cedendo mais-valia ao capital midiático. Mesmo quando se acham em plena autonomia e gozo do seu tempo livre, estão funcionando economicamente como "número" de sondagem de opinião. [+] |
"A tradição dos oprimidos nos ensina que o estado de exceção em que vivemos é na verdade regra geral. Precisamos construir um conceito de história que corresponda a essa verdade. Nesse momento, percebemos que nossa tarefa é criar um verdadeiro estado de emergência." - Walter Benjamin
5.7.06
Leitura labial, a ética e os negócios
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