14.7.06

TV Digital Parte V

Já falei demais de TV Digital e por achar este tema importante para o cidadão brasileiro, mais uma vez venho aqui retratá-lo, mesmo que a decisão já tenha sido tomada e que provavelmente não tenha mais possibilidade de modificação em curto prazo.

Retrato abaixo alguns trechos de uma entrevista concedida por Israel Bayma à repórter da Carta Capital – Ana Paula Sousa.

“Pesquisador da Universidade de Brasília, o engenheiro Israel Bayma é um dos principais estudiosos das relações entre política e mídia no Brasil. Ex-assessor-técnico do PT no Congresso e assessor-técnico da Casa Civil, Bayma segue de perto as discussões sobre tv digital. Nesta entrevista, ele não fala pelo governo nem pelo PT. Mas com o olhar do cientista, joga luzes sobre o processo.”

As partes destacadas em itálico são as que eu achei interessantes e, também são questões que sempre foram levantadas por jornalistas, especialistas e críticos em outros veículos de comunicação e que julgo importante sempre ressaltá-las. Já ás em vermelho são minhas pequenas “contribuições”, uma vez que já manifestei minha opinião sobre este assunto e agora só busco novas visões.

Carta Capital: A tevê digital repete a história da tevê como moeda de troca política?
Israel Bayma: Esse processo, não só de usar as concessões, mas a máquina do Estado como moeda de troca, é um fenômeno que ocorre historicamente e que se reproduz no atual Estado como patronagem. São patronos que usam as relações com o governo para, de forma direta, buscar benefícios.

CC: É difícil saber quem tem uma concessão porque é político ou quem é político porque tem uma concessão, não?

IB: Eu não fiz essa identificação, mas outras análises mostram que o uso das concessões tem uma influência grande no desempenho eleitoral. Isso também se manifesta no posicionamento de cada parlamentar nos assuntos não só de interesse do setor de rádio e televisão, mas também no apoio aos governos em troca de concessões e outorgas. É o clientelismo nos meios de comunicação.

CC: O senhor escreveu que teríamos a tevê digital num sistema analógico. Os ganhadores serão os de sempre (globo, sbt, band, Record, dentre outras. Grifo meu.)?

IB: Acho que sim, já que a legislação não foi alterada.

CC: Essa escolha, até certo ponto apressada, teria o objetivo de manter tudo como está?
IB: A maioria dos países desenvolvidos definiu o início da transmissão digital no fim da década de 90 ou no início dos anos 2000, mas, em face da rapidez da tecnologia, optaram por, primeiro, alterar a legislação. A Grã-Bretanha unificou os órgãos reguladores e fez uma legislação mais moderna que trata das relações entre os vários segmentos agora envolvidos no negócio. Esse novo movimento de capital tem de ser supervisionado pelo Estado para evitar concentração de propriedade e oligopólios, como há no Brasil. Aqui, um só grupo detém mais de 60% das emissoras de rádio e televisão em determinada região, é proprietário de jornais, de revistas.

CC: Esse grupo, a Globo, emplacou o padrão digital que sempre defendeu. Foi muito mais uma decisão comercial e política do que técnica?

IB: A decisão é de natureza política, já que todos os padrões gozam de similaridades e poderiam atender aos interesses deste ou daquele país. Então, o Brasil entendeu ser esse o padrão que melhor atendia aos interesses estratégicos. Mas o grande problema, a meu ver, é que o Brasil perdeu a oportunidade de adequar a legislação à tevê digital, corrigindo problemas e possibilitando a entrada de novos agentes na radiodifusão, ou seja, democratizando as comunicações.

CC: É legítimo perguntar se a única vantagem será ver Big Brother em alta definição?

IB: E também perguntar se será permitido que as produções regionais tenham preferência sobre a produção em rede (hahaha). Mas eu tenho clareza de que, até 2016, a legislação será alterada e algumas questões resolvidas.

CC: Por que o governo não brigou pela nova lei?

IB: Os governos têm muita dificuldade. Imagine a definição do padrão de tevê digital num ano eleitoral. A gente não pode escamotear a influência política dos meios de comunicação. Eles já demonstraram que criam, elegem e derrubam candidatos.

CC: O que ganharia um governo que tivesse a coragem de comprar essa briga? Ou é impossível governar sem os meios de comunicação?

IB: Alguns países têm mostrado que é possível governar sem o apoio dos meios de comunicação. O que não é possível é governar sem o apoio popular. O presidente Hugo Chávez, da Venezuela, demonstra isso. Os meios de comunicação foram os protagonistas da crise do seu governo, mas ele tinha o apoio popular.

Entrvista completa aqui.

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