Qual seria a atitude de Leonardo da Vinci caso ele se deparasse com uma representação da Monalisa com o rosto de Jack Nicholson ou com centenas de Monalisas identicas à original?- Espanto, desprezo, ódio, perplexidade, riso ou euforia? - Ou melhor, qual seria a atitude de todos que viveram naquela época?
É dificil responder, mas acredito que não seria das melhores possíveis, porém não são somente os personagens dos tempos de Leonardo que classificariam esta representação de sua mais famosa obra como banal ou outro adjetivo qualquer, pois mesmo que a digitalização tenha proporcionado tal façanha, ainda há os conservadores adoradores da arte e muitos outros que preferem a arte verdadeira do que uma reprodução digital da mesma. Tal gosto pelo original pode ser creditado ao valor agregado e único que aquele quadro carrega, ou como Walter Benjamim dizia - a "aura" que aquela obra leva consigo.
Monalisa foi única, existe apenas um quadro legitímo, porém há milhares de Monalisas digitais, fato este que proporciona uma aproximação de leigos ou interessados que talvez nunca teriam acesso a obra se não fosse a evolução e reprodutibiliade propiciada pelos meios de comunicação e principalmente pelo meio digital.
Com isso refaço a pergunta, porém agora sobre os olhos dos milhões de usuários do ambiente virtual: Qual seria a atitude destes usuários ao se depararem com as várias representações do quadro da Monalisa ou com a "LisaNicholson"?
- Talvez encarariam com normalidade, fato cotidiano, gargalhadas, e também talvez encarariam como algo bom, visto que nunca (ou provavelmente nunca) teriam acesso a um dos quadros considerados como sendo um dos mais fabulosos já feitos, e esta oportunidade só seria possível caso fossem fazer uma "visitinha" ao Louvre. Em contrapartida também poderiam assumir posições conservadoras em defesa ao original.
O impossível se tornou possível, quais são as atitudes?
A questão que quero levantar aqui ao fazer estas comparações entre possíveis atitudes de Da Vinci, conservadores e usuários da rede, é a de que o impossível se tornou possível graças a evolução dos meios de comunicação, destacando-se entre eles o meio digital.
Da Vinci, Picasso dentre outros, conceberiam como impossível tal representação, porém os avanços tecnológicos como Walter Benjamim já atestava em seu ensaio de 1936: "A obra de Arte na Era de sua reprodutibilidade técnica", tornaram possíveis e acessíveis a reprodutibilidade dos originais para as grandes massas. Naquele tempo eram somente através de livros e fotografias, e nos dias atuais réplicas dos originais podem ser vistas nos meios digitais a qualquer momento e sem perda de qualidade visual.
Esta reprodutibilidade digital é o que faz com que as atitudes dos usuários da rede perante a visualização destas obras seja na maioria das vezes a mais branda possível, modificando assim a relação de significados entre obra e público, uma vez que grandes obras tornaram-se acessíveis para diversos públicos indepentende do público estar no Louvre ou no Brasil e independente de que classe pertencem. Se é bom ou ruim depende do ponto de vista.
Da Vinci diria: "É impossível" - Alguns criticos da arte de hoje: "Isso é um absurdo!"? - Alguns internautas: "Então é essa a obra daquele pintor? - Até que é bonitinha, vou colocar minha face nela". - Outros internautas diriam: "Ah se não fosse a internet, quando eu poderia ver esta obra de arte? Isso é magnifico".
É impossível saber a resposta, mas o que interessa aqui é que o digital torna possível o impossível. Uma vaca pode voar, eu posso voar, eu posso ser o presidente dos EUA, você pode ser o presidente dos EUA, mesmo que imageticamente graças ao meio digital.
E você o que diria, qual seria a sua atitude hoje ou no passado perante a "imagem do impossível"?
E as questões da perda da "aura", do valor agregado, da "pirataria", como ficam nos dias atuais?
"Manejar a técnica não como um fetiche do holocausto, mas como uma chave para a felicidade."- Walter Benjamim
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