Dicionário de campanha
Falta um mês e meio para o momento mágico em que você, já no interior da cabine eleitoral, visita sua alma. Súbito, descobre que esqueceu a consciência em casa. Estica o dedo em direção à urna eletrônica e vota a esmo. Transfere o problema para a divina providência. Meses depois, descobre que Deus está morto. Foi assassinado pela omissão coletiva. Não resta senão sentar, rezar, pedir perdão e expiar os pecados. Nesses tempos de culto à hipocrisia, o repórter gosta de reeditar um dicionário que vem colecionando e atualizando.
- Candidato: pretensioso que diz coisas definitivas sem definir as coisas;
- Campanha: período em que um grupo de loucos apresenta no rádio e na TV sua plataforma para dirigir o hospício;
- Coerência: velha maluca que faz tricô enredando-se nas linhas de suas próprias contradições;
- Coligação: aliança partidária com fins lucrativos;
- Democracia: regime político que saiu pelo ladrão; espécie de luta de boxe em que a sociedade entra com a cara;
- Eleição: uma loteria sem prêmio no final;
- Eleitor: cidadão escalado para optar entre o lamentável e o impensável;
- Heloisa Helena: Pseudonovidade no seio da política; a inconseqüência com saliências e reentrâncias;
- Lula: ex-operário que se converteu em compositor. Compõe com qualquer um.
- Marketing político: técnica que consiste em enfeitar a forca, conferindo-lhe a aparência de inofensivo instrumento de cordas;
- Pesquisa eleitoral: estatística que antecipa o nome do herói que será chamado de ladrão depois da posse;
- Petista: tucano que conseguiu pôr a mão na chave do cofre;
- Programa de governo: tratado de verdades que se esquecerão de acontecer;
- Tucano: linhagem de políticos com os pés no chão. E as mãos também;
- Voto: equívoco renovado de quatro em quatro anos;
Por último, vai aqui uma recomendação: na manhã de 1º de outubro, depois de escovar os dentes e lavar o rosto, olhe fixamente para o espelho. Talvez você enxergue o reflexo de um culpado.
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